"Não basta a agudeza intelectual para
descobrir uma coisa nova. Faz falta entusiasmo, amor prévio por essa coisa.
O entendimento é
uma lanterna que necessita de ir dirigida por uma mão, e a mão necessita de ir mobilizada por um anseio pré-existente para
este ou outro tipo de possíveis coisas. Em definitivo, somente se encontra o
que se busca e o entendimento encontra porque o amor busca.
Por isso todas as ciências começaram por ser
entusiasmos de amadores. A pedanteria contemporânea desprestigiou esta palavra;
mas amador é o mais que se pode ser com respeito a alguma coisa, pelo menos é o
germe todo. E o mesmo diríamos do dilettante - que significa o amante.
O amor busca para que o entendimento encontre.
Grande tema para uma longa e fértil conversa, este que consistiria em
demonstrar como o ser que busca é a própria essência do amor! Pensaram vocês na
surpreendente contextura do buscar?
O que busca não tem, não conhece ainda aquilo que
busca e, por outra parte, buscar é já ter de antemão e conjecturar o que se
busca.
Buscar é antecipar uma realidade ainda inexistente,
preparar o seu aparecimento, a sua apresentação. Não compreende o que é o amor
quem, como é habitual, se fixa somente no que desperta e desfecha um
amor."
Ortega y Gasset, in 'O Que é a Filosofia?
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